Assim como no Dia da Bicicleta, há vários “dias do ciclista”. Volta e meia a gente vê alguma postagem dando os parabéns por aí. Mas algum deles é o “certo”?
Geralmente essas datas são divulgadas sem nenhuma explicação ou reflexão sobre sua importância. Costumam ser lembradas só para vender algum produto mesmo, ou melhorar a imagem de alguma marca e tentar uma proximidade forçada com os ciclistas. Por isso, criamos esse texto para esclarecer o motivo da data – e porque ela é importante.
O Motivador da data
Há 15 anos, o ciclista Pedro Davison foi atingido por um motorista bêbado que fugiu sem prestar socorro na Asa Sul, em Brasília. O biólogo tinha 25 anos à época e, é em memória a ele, que 19 de agosto marca o Dia Nacional do Ciclista.
Consequências ao motorista
Em julho de 2012, veio outra sentença. Leonardo foi condenado a pagar indenização de R$ 150 mil aos pais e à filha da vítima, mais R$ 970,47 de pensão a sua filha, até a data em que ela completasse 25 anos, incluindo uma parcela a cada 12 meses do mesmo valor, a título de 13º, e mais R$ 323,49, correspondente a 1/3 de férias. Ele também teve que arcar com as despesas do funeral do ciclista, no valor de R$ 3.612,00.
Dia do Ciclista
A lei que criou o Dia Nacional do Ciclista foi sancionada em novembro de 2017, pelo então presidente Michel Temer. A proposta foi aprovada pelo Congresso Nacional no mesmo ano e a data foi escolhida em referência ao dia em que Pedro Davison morreu.
Dia de reflexão
O que aconteceu com Davison em Brasília não se trata de um caso isolado. De acordo com levantamento feito pela Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), quase 13 mil internações hospitalares causadas por atropelamento de ciclistas em todo o Brasil foram registradas no Sistema Único de Saúde (SUS), entre 2010 e 2020, com gasto de R$ 15 milhões todos os anos para tratar ciclistas traumatizados em colisão com motocicletas, automóveis, ônibus, caminhões e outros veículos de transporte. Além disso, na última década, 13.718 ciclistas morreram no trânsito brasileiro após se envolverem em algum acidente, 60% deles em atropelamentos.
O símbolo
Uma bicicleta branca enfeitada com flores marca até hoje o local do atropelamento. Esse tipo de memorial, conhecido internacionalmente como ghost bike, é uma homenagem a quem perdeu a vida para a pressa e a irresponsabilidade de alguém, para a falta de planejamento viário, para a omissão do poder público.
Documentário
Um dia que era pra ser de muita alegria acabou ficando marcado na memória de Luiza Davison. “No dia do meu oitavo aniversário, no dia 19 de agosto de 2006, logo depois da minha festinha, meu pai saiu pra fazer o que mais gostava: pedalar. Mas um motorista embriagado fez com que sua vida terminasse ali, no Eixo Rodoviário de Brasília, onde hoje uma bicicleta pintada de branco, sempre cercada por flores, mantém viva sua memória.”
O curta-metragem independente "Lulu vai de bike" foi dirigido pelo cineasta Edson Fogaça, que é amigo da família. "É um misto de ficção com documentário", conta ele.
"A construção do roteiro foi levando o expectador a um passeio pela cidade, mostrando locais com ciclovia e a possibilidade de interação com pessoas. Mas tem uma percepção diferenciada da cidade, o ponto de vista de quem está pedalando é diferente do ponto de vista de quem tá dentro de um carro", diz Fogaça.
As cenas foram gravadas na Asa Norte e na Asa Sul, estrategicamente. "Queremos mostrar que os usuários do Plano Piloto poderiam optar pela bicicleta e deixariam para quem vem de fora do Plano um trânsito mais tranquilo", diz o cineasta.
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